Dois "Primeiros"

Segundo o  "Guiauto Ilustrado", jornal de Automobilismo, Sports Mecanicos e Turismo do qual se conhecem apenas cinco exemplares publicados durante o ano de 1929, o primeiro rallye automóvel organizado em Portugal terá tido lugar em Vila do Conde e o primeiro comerciante do ramo a estabelecer-se terá sido o senhor Albert Beauvalet em finais do século XIX. Seguem as respectivas notícias.



O Valente do Carro 86

"O Valente do Carro 86". Assim se referia a imprensa do Rio de Janeiro ao talento e coragem de Henrique Lehrfeld que tendo partido com o seu Bugatti da última fila da grelha para o Grande Prémio do Rio de Janeiro de 1935 conseguiu terminar a corrida em segundo lugar depois de ter batido o record da volta mais rápida por várias vezes.
Fotografia da família Lehrfeld


Vitória no Campo Grande

A 14 de Maio de 1933 disputou-se o III Circuito do Campo Grande, em Lisboa, prova que despertou enorme interesse entre os entusiastas do automobilismo em virtude no anunciado "duelo" entre Henrique Lehrfeld e Vasco Sameiro, os grandes "volantes" da época. Inscreveram-se 15 automóveis, oito na categoria "Sport" e sete em "Corrida". A prova de "Sport" foi claramente dominada pelos Invicta dos irmãos Vasco e Roberto Sameiro, com o primeiro a sagrar-se vencedor. Tal como se esperava a corrida principal teve no Bugatti de Henrique Leherfeld e no Alfa Romeo 8C 2300 Monza de Vasco Sameiro os principais protagonistas, com os dois pilotos a alternarem-se várias vezes na liderança para gáudio da enorme assistência. Lehrfeld deu tudo por tudo e ainda conseguiu a volta mais rápida (126, 920 km/h) mas a vitória acabou por sorrir a Vasco Sameiro naquela que a imprensa da época classificou como "a primeira grande e autêntica corrida de automóveis em Portugal".
Bibliografia - "Primeiro Arranque", de Vasco Callixto.
Foto - Jornal "O Volante".


Alfa Romeo Giulietta Sprint Speciale

O Alfa Romeo Giulietta Sprint Speciale que aqui vemos no final da Volta à Madeira de 1961 onde foi tripulado por Abílio Correia Lobo veio para Portugal em 1959, tendo sido utilizado por "Mané" Nogueira Pinto nalgumas corridas, nomeadamente em Vila do Conde. No ano seguinte passou para as mãos de Fritz D´Orey por troca com um Ferrari que este possuía na altura. Em 1960 foi com este carro que o piloto luso brasileiro fez a viagem até Le Mans onde iria disputar as 24 Horas desse ano ao volante de um Ferrari 250 GT. Depois, durante os treinos de qualificação aconteceu o terrível acidente que o deixou em coma durante vários dias e ditaria o fim da sua carreira automobilística. Nunca mais se lembrou do Alfa Romeo.
Projectado por Franco Scaglione o Alfa Romeo Giulietta Sprint Speciale estava equipado com um motor de apenas 1300 cc que debitava mais de 100 cavalos de potência, um prodígio para a época.


II Grande Prova de Resistência e Turismo

De 20 a 25 de Junho de 1933 disputou-se a segunda edição da Grande Prova de Resistência e Turismo, embrião daquilo que mais tarde viria a ser a "Volta a Portugal" e que consistia em percorrer mais de 1800 km através do nosso país ao longo de seis etapas. Dezasseis equipas compareceram à partida em Cacilhas, menos seis que no ano anterior. O vencedor absoluto seria João Gelweiller que partilhava o Essex-Terraplane com Dionísio Gallino (na imagem) tendo Arnaldo Stocker (Triumph) e Júlio Trigo (Fiat) vencido as classes respetivas. D. Maria La Caze Noronha terminou em sexto lugar e venceu a Taça de Senhoras enquanto que Armando Pombo, vencedor das complementares de Évora e da Covilhã, seria forçado a desistir após ter atropelado um cavalo.
Bibliografia - Primeiro Arranque, de Vasco Callixto
Foto - jornal O Volante


Lancia Aprilia Boneschi

Carlos Pinto Coelho (1915-2000) foi advogado por profissão mas era no automobilismo que encontrava uma das suas grandes paixões, facto que o levou a inscrever-se por três vezes no Rallye de Monte Carlo. Em 1951 terminou a grande clássica europeia em 96º lugar ao volante de um Riley 2,5 L, a única vez que completou a prova. Voltou em 1952 com o mesmo carro, mas foi forçado a abandonar, tendo repetido a experiência em 1953, desta vez ao volante de um Lancia Aurelia, só que  também não foi feliz. No final da década de 40 utilizava este belo Lancia Aprilia Boneschi para as suas deslocações pessoais.



Citroen Traction 15/6

Depois de ter participado na edição de 1951 do Rallye de Monte Carlo com o Citroen Traction 15/6 matrícula GG-13-82 João Lacerda voltaria ao "Monte" nos dois anos seguintes com o HF-16-83, um carro idêntico ao anterior. Em 1953 fez equipa com Harry Rugeroni e viria a terminar a prova na 43ª posição, um resultado mais que honroso se pensarmos que chegaram ao fim 346 das 404 equipas que compareceram à partida.


D. B. Panhard

O D. B. Panhard de José Emídio da Silva (desconhemos o nome do copiloto) visto aqui à partida de Lisboa para o VI Rallye Internacional de Lisboa não conseguiu terminar a prova mas foi seguramente um dos automóveis mais extraordinários que nela participaram ao longo das suas várias edições. Inscrito na classe 5 (motores até 750 cc) tinha como adversários directos nada menos que quatro  Dyna Panhard que acabaram por conquistar os lugares de topo na categoria.
O VI Rallye Internacional de Lisboa (Estoril) de 1952 teve mais de uma centena de inscritos que partiram de diversas cidades europeias (Londres, Milão, Bruxelas, Monte Carlo, Berna, Madrid, Amsterdam, Lisboa, Porto, Frankfurt, etc) para percorrerem alguns milhares de quilómetros de estradas nem sempre perfeitas até se encontrarem no Estoril onde se realizariam as provas complementares. Joaquim Filipe Nogueira, em Porsche 356 (what else?) seria o grande vencedor.
O IE-17-74 continua em Portugal e passou recentemente por um restauro exemplar que o devolveu à sua cor e glória originais (em baixo, à direita).