O Único Português no Álbum da Ferrari

Artigo de Rui Miguel Tovar no "I"online de 30 de Dezembro de 2010
Fotografia - colecção Duarte Pinto Coelho



Nicha Cabral (cinco corridas entre 1959 e 1964), Pedro Matos Chaves (13 em 1991), Pedro Lamy (32 entre 1993 e 96) e Tiago Monteiro (37 entre 2005 e 2006) foram os quatro pilotos portugueses que andaram no circo da Fórmula 1 e são nomes incontornáveis do automobilismo português pela incrível façanha de terem chegado ao topo. A história que aqui vamos contar de um outro inesquecível piloto nacional é trágica e nunca passou pela F1. 
Esquecido por alguns e desconhecido para muitos, António Joaquim Borges Barreto, abreviado para Toquim, foi o primeiro e único piloto português na Ferrari. Este dado, por si só, já garante uma página. Mas afinal porque é que a escuderia mais famosa da história contratou um português de 24 anos? Bem, é por isso que vamos escrever uma página sobre o homem e o piloto que passou ao lado de uma carreira gloriosa.
Nascido em Évora, Toquim deu-se a conhecer nas pistas aos 23 anos, em 1954, numa altura em que a média de idade dos pilotos da Fórmula 1 (só para dar um exemplo) era de 42 anos. Ao volante de um Porsche 356, Toquim apresentou-se na VI Volta a Portugal, organizada pelo desaparecido Clube 100 à Hora. Para surpresa de muitos, incluindo do próprio, saiu-se vencedor de uma prova que contava com nomes sonantes do automobilismo português. A sua humildade é sincera e, ao mesmo tempo, graciosa: "Sou estreante. Nunca entrei em provas, se bem que conduzo há bastante tempo. Sinceramente lhe digo: quis avaliar o prazer destas andanças. Não sabia nada disto e não queria deixar de experimentar as sensações que outros volantes têm tido. Agora não desisto mais."
Para a frente é que é Lisboa. Ou Porto. Ou Guimarães. Com Toquim ao volante, as surpresas nunca mais acabavam. Foi sétimo classificado no GP Portugal, no Circuito da Boavista, no Porto, décimo no GP Lisboa, segundo na Rampa da Penha (Guimarães) e primeiro num Quilómetro de Arranque. A experiência nestas provas dão-lhe a projecção necessária para outros voos e Toquim aventura-se na compra de um Ferrari 2M (Spider Vignale), que pertencia a D. Fernando de Mascarenhas, prestigiado piloto português. É essa compra, feita no final do ano de 1955, que lhe permite dar o salto.
Em 1956, o Ferrari e Toquim fundem-se num só. Ao quarto lugar no GP Porto segue-se a primeira internacionalização, nas 10 horas de Messina (Itália). Acaba em terceiro, e ainda levanta a Taça dos Novos. Esse lugar no pódio aliado ao título numa corrida paralela confere-lhe maturidade ao volante e confirmam-se as negociações com a Ferrari. Em conversa informal com o jornal "O Volante", Toquim anunciava um contrato profissional, já com testes marcados com a Ferrari, no dia 15 de Setembro, em Saint Étienne. 
"Vou para Itália, onde me demorarei poucos dias, apenas o tempo necessário para alguns treinos na Ferrari. Depois sigo para França onde disputarei uma prova de circuito em Saint Étienne à qual devem correr todos os bons e em que eu correrei oficialmente pela Ferrari." O entrevistador está embasbacado. Ferrari? "Sim senhor, pela Ferrari. Em Messina, já corri pela Ferrari mas agora é verdadeiramente oficial a minha presença na equipa." E a ideia é tornar-se profissional? "É essa a minha intenção. Tenho 25 anos e reconheço que posso fazer qualquer coisa interessante. Lá fora escasseiam os corredores novos: julgo que a ocasião é de aproveitar..." [nesse ano de 1956, Fangio é campeão mundial de pilotos com 45 anos de idade, enquanto a Ferrari ganha o Mundial de construtores]
É nesse momento que o destino prega uma das partidas mais cruéis, com a morte de Toquim nas 6 horas de Forez, na estreia oficial pela Ferrari. O italiano Piero Carini, que seguia em terceiro lugar, perdeu o controlo do seu Ferrari Testarossa a mais de 200 km/h e foi bater na traseira do português, projectando os dois veículos contra um muro, onde ambos morreriam naquele instante. Portugal ficou paralisado, Évora nem se fala. Toquim era já um símbolo naquela cidade. A sua urna foi levada em ombros da igreja na praça do Giraldo até ao cemitério. Em cima dela, duas coroas de flores: uma enviada por Enzo Ferrari, como sinal de luto pelo recém-contratado piloto; outra da família de Piero Carini, o outro acidentado no fatídico dia.
Toquim pode nunca ter chegado à Fórmula 1 mas tem o seu nome no livro de pilotos da Ferrari, onde se lê: "Com coragem e paixão, faleceu com apenas 26 anos."

1 comentário:

  1. O Toquim Barreto ,foi um piloto que
    melhorava a perfomance a cada prova.
    Sendo um piloto prudente, tinha tempo
    para aprender , quiz o destino ser
    cruel com ele .
    Reconhecendo as suas capacidades de
    condutor ,o Marques da Fronteira ,
    D Fernando Mascarenhas , resolveu
    dar lhe apoio nos sonhos, dai a
    cedencia da 250MM e da 750Monza com
    preços e condiçoes muito especiais .
    O desaparecimento do Marques da
    Fronteira no estupido acidente com
    a Superamérica , veio por termo a
    este apoio .
    Outro gentleman driver ,D Joao de
    Castro , resolveu apoiar o Toquim .
    Foram feitos contactos com a Ferrari ,e foi feito um acordo ,do
    tipo que tinha sido acordado em 53,
    com Casimiro de Oliveira , no qual
    seria piloto representa da marca
    numa base logistica de semi works
    drive.
    Quanto ao acidente em Forez ,as
    rectas maiores do percurso tinham
    como separador central...pequenos
    arbustus .
    Estava chuva e Piero Carini perdeu
    sem motivo aparente o control do
    carro, galgou o separador e foi
    colidir de frente com a 500TRC de
    Borges Barreto , que foi projetado
    numa ravina com 10 metros .
    Ambos os pilotos tiveram morte
    imediata .
    No funeral de Toquim ,além da coroa
    de flores enviada por a Ferrari ,
    outra veio da parte da familia
    Carini .
    Passado um tempo , a quando do GP
    de Portugal , o Manager da Ferrari
    Dragoni ,apresentou a conta do
    fornecimento da 500 TRC a Joao de Castro , o qual passou o cheque .
    A seguir ao acidente de Toquim ,
    Joao de Castro retirou se das
    provas de velocidade ,perder dois
    amigos em curto espaço de tempo
    foi demais.
    Eram os gentleman drivers .

    Luis

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