A ultima corrida
Vasco Santiago Sameiro foi o
primeiro piloto português a merecer o epíteto de "Herói", uma vez que corria por
prazer e para gáudio dos seus inúmeros admiradores. Foi também o primeiro a ter uma carreira verdadeiramente internacional, disputando corridas ao logo de vinte e seis anos sempre que os seus afazeres profissionais o permitiam .
Pilotou
carros como o Ford, Invicta, Alfa Romeo e Maserati, estes últimos
antes da II Guerra quando era o único embaixador do automobilismo
português no estrangeiro. No período pós guerra Sameiro usou exclusivamente carros da marca
Ferrari com maior ou menor sucesso, sendo que na esmagadora maioria das vezes não era por sua culpa que os carros davam problemas.
No V Grande Premio de Portugal, disputado na Boavista em
junho de 1955, o volante nortenho estreou um novo Ferrari 750 Monza, a última palavra de Maranello na altura. Este chassis, numerado 0576M, teve o
primeiro contacto com o piloto na ante véspera do GP, momento em que o carro
começou a carburar mal e a criar dificuldades a Vasco Sameiro.
Diagnosticado o problema numa verdadeira corrida contra o tempo, chegaram por via
aérea as velas necessárias ao bom funcionamento do motor. Nos treinos os tempos por
volta foram baixando regularmente, mas ainda assim longe do inacessível Maserati 300S
de Jean Behra, que tinha chassis e motor superiores ao carro que Maranello oferecia.
Sameiro na primeira vez que guiou a Monza fez um tempo que lhe dava um
lugar na primeira fila ao lado de Behra e Casimiro de Oliveira, que
tripulava um novo Monza encomendado para substituir o carro acidentado em Dakar, mas ao qual foi atribuído o mesmo numero de chassis. Porém, Vasco Sameiro estava ainda 0,02 décimas de segundo mais lento que Casimiro e decidiu continuar em pista para tentar melhorar esse tempo. Mas o Destino tinha outros planos e o corajoso piloto nortenho acabou por sofrer uma violenta saída de pista que deixou o # 0576M partido em dois e lhe provocou sérios ferimentos que o deixaram imobilizado durante meses. Mais tarde, numa
entrevista concedida a um semanário em 1988, Vasco Sameiro contou que nunca percebeu as razões do acidente, uma vez que o carro saiu da trajectória sem qualquer motivo e simplesmente
"disparou" noutro sentido . Depois disto Vasco Sameiro, então com 52 anos de idade,
decidiu retirar-se do automobilismo, saindo de cena um verdadeiro Herói destemido e corajoso mas que, apesar de tudo, acabou por ter melhor sorte que outros
colegas que também guiaram Monzas tais como Ascari, Castelloti, Mc Fee, Warthon,
Picard e Casimiro de Oliveira.
Texto e fotos de Luis Sousa
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