Um HRG em Portugal

Em 1950 disputou-se o IV Rallye Internacional de Lisboa (Estoril), a segunda prova mais importante do calendário europeu de rallyes logo a seguir a Monte Carlo, com 116 equipas a partirem de várias cidades da Europa rumo ao Estoril onde teriam lugar as classificativas finais. Entre os 80 carros que chegaram ao Estoril estava o HRG de Simon Knudsen Hansen, filho de pai norueguês mas nascido  em Portugal que se dedicava a actividades de "shipping" a partir de Lisboa. Infelizmente o invulgar automóvel inglês produzido por Halford, Robins e Godfrey (HRG) sofreu um acidente durante a segunda prova disputada em volta do Casino Estoril e terminou aí a sua participação no IV Rallye Internacional. 
No ano anterior, 1949, Simon Hansen e o seu HRG seriam os vencedores da respectiva classe no II Rallye de Miramar, tendo conquistado a Taça da Gândara e recebido 10 mil escudos em dinheiro.
Muitos anos após os eventos aqui descritos este belíssimo carro de desporto foi adquirido por um conhecido coleccionador nacional e devolvido à sua grandeza original. As imagens são elucidativas.
Fotos - Centro de Documentação do ACP e JG









Equipa C. Santos / Standard Vanguard

Em 1950 disputou-se a quarta edição do Rallye Internacional de Lisboa (Estoril), na altura a segunda prova mais importante do calendário europeu de rallyes logo a seguir ao Rallye de Monte Carlo. Oitenta concorrentes, partidos de várias cidades europeias, percorriam três mil quilómetros até se encontrarem no Estoril, onde decorreriam as classificativas finais. O vencedor seria o inglês Ken Wharton, em Ford, logo seguido pelo pequeno MG de Joaquim Filipe Nogueira. Mas do que aqui se pretende dar conta é da brilhante participação da Equipa C. Santos, representante da marca Standard Vanguard em Portugal, formada por João Castello Branco, Fernando Mendes de Almeida, Harry Rugeroni e João Ortigão Ramos (da esq. para a dta).
A carreira automobilística de João Castello Branco tinha começado de forma auspiciosa no ano anterior com a sua vitória na classe 1,100 cc da Volta a Portugal 1949 ao volante de um Simca 8.
Foto - colecção da família Castello Branco
Recorte - jornal "O Volante"
Neste interessante VIDEO da Filmoteca Nacional de Espanha, cedido por Ramón de Mateos, podem ver-se, a partir do minuto 3, algumas imagens relativas à participação dos concorrentes partidos de Madrid.



II Circuito da Boavista

Num percurso desenhado na avenida com o mesmo nome, disputou-se em 1932 no Porto aquele que viria a ser designado por II Circuito da Boavista. A prova  consistia em percorrer durante 90 minutos  um traçado que consistia em duas rectas paralelas ligadas por curvas de 180 graus para a esquerda no final de cada uma, tudo isto em piso asfaltado. O carro que desse o maior número de voltas seria o vencedor. Nas imagens podem ver-se o Bugatti de Marques da Fonseca e o Opel de D. Palmira Coelho que assim marcou a primeira vez em que uma senhora disputou uma prova de velocidade em Portugal.
Fotos -  Centro de Documentação do ACP


Vitória em Cannes

Vitória absoluta da equipa portuguesa formada por D. António Guedes de Herédia e João Capucho no II Rallye Soleil de Cannes de 1949, ao volante de um Riley. No final a equipa vencedora fez-se fotografar junto dos ingleses Vernon e Bray que terminaram a prova em 5º lugar tripulando um carro idêntico.
D. António Guedes de Herédia foi também velejador olímpico tendo representado Portugal nos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936.
O Conde de Monte Real, que viria a ser um nome de referência no automobilismo nacional, faria a sua estreia em ralis nesse mesmo ano ao volante do Riley de D. António Herédia. Dois anos mais tarde (1951) conseguiria o melhor resultado de sempre de uma equipa portuguesa no Rallye de Monte Carlo, o segundo lugar absoluto.

Circuito do Parque Eduardo VII, Lisboa, 1934

No dia 4 de junho de 1934 uma multidão calculada em 30 mil pessoas convergiu para o Parque Eduardo VII em Lisboa para assistir às provas desportivas que ali se disputavam sob o olhar atento do Presidente da República, Marechal Óscar Carmona. Realizaram-se corridas de motos e automóveis, bem como um concurso de elegância automóvel. No final do programa o consagrado "ás" Henrique Lehrfeld procedeu a uma demonstração com o seu Bugatti de corridas mas ao fim de três voltas sofreu um despiste, arrancou três árvores e o piloto foi parar ao hospital.
Na corrida "Sport" participaram Manuel Nunes dos Santos em Hilman Minx, Rui Gonçalves em Austin, Albano Gomes em Austin, António Guedes de Herédia em Morris, Armando Pombo em MG, Elmano Ribeiro em SS e Virgílio Barroso em Lancia.



Entre os Melhores

Também no automobilismo Manoel de Oliveira andava entre os melhores, tal como aconteceu no cinema. A diferença é que a sua carreira nos automóveis foi breve e sempre algo ofuscada pelo brilhantismo do seu irmão Casimiro, mas mesmo assim chegou a obter resultados de relevo tais como o terceiro lugar conquistado no Grande Prémio do Rio de Janeiro de 1938 cuja crónica publicada no jornal "A Batalha" aqui se reproduz. O nosso compatriota partiu da segunda fila da grelha logo atrás dos dois italianos Pintacuda e Arzani, pilotos da Alfa Romeo e foi ganhando posições ao longo da corrida. Parabéns, Grande Campeão!



Manoel de Oliveira, 1908 - 2015

Manoel de Oliveira era um genuíno homem do norte, autêntico e frontal, que dedicou toda a sua longa vida a uma imensa paixão, o cinema. Mas antes disso ainda teve oportunidade para se exprimir enquanto piloto de automóveis de mérito, tendo integrado a primeira equipa de corridas do nosso país, a equipa Ford, com a qual disputou provas ao mais alto nível em Portugal e no Brasil. O automobilismo não lhe trouxe qualquer glória especial mas acabaria por atingir dimensão mundial enquanto realizador de cinema que tinha um estilo próprio, inovador e inconfundível. Tal como aconteceu com muitos outros talentos invulgares a sua obra só será devidamente reconhecida algumas décadas após a sua morte.
Que fique em Paz.
Agradeço a Gonçalo Macedo e Cunha o raro cartaz de Vila Real 1937, prova que Manoel  de Oliveira disputou ao volante de um Ford V8 na categoria "corrida". Terminou em quarto lugar.
A imagem de baixo vale pelo simbolismo do "adeus" de Catherine Deneuve, uma das actrizes favoritas do Mestre, que aqui aparece ao lado de John Malkovich.