Salão Automóvel de Lisboa 1934

Inaugurado pelo Presidente da República, general Óscar Carmona, em Abril de 1934, o Salão Automóvel de Lisboa teve lugar no Pavilhão de Exposições da capital, que hoje leva o nome de Carlos Lopes. Foi organizado pelo jornal "O Século" e o bilhete de entrada custava 2$50.
Nos anos 20 e 30 realizaram-se vários salões da especialidade em Portugal, sendo que a maioria teve lugar na cidade do Porto, no Palácio de Cristal, facto que confirma que o entusiasmo das gentes do norte pelo automobilismo já vem de longe. Em 1925 o Automóvel Clube de Portugal organizou um Salão de Lisboa  no Coliseu dos Recreios, mas este viria a saldar-se por um rotundo fracasso.
Registe-se a variedade de marcas presentes no Pavilhão de Exposições de Lisboa, muitas das quais já desaparecidas.

Colaboração do engº João Lopes da Silva
Foto - DigitArq, Torre do Tombo


Troféu Turístico Clube Shell

O Mercedes 300 SL do Conde de Monte Real à partida para a prova e durante a subida da rampa da Pena durante o chamado Troféu Turístico Clube Shell, uma prova disputada na Serra de Sintra em 1956.
Este seria o último carro a ser tripulado por Jorge Melo e Faro na sua longa  e bem sucedida carreira desportiva. Para despedida e por puro divertimento, o Conde de Monte Real usou este Mercedes 300SL para bater o record do percurso Lisboa - Paris.
Colaboração de Gonçalo Macedo e Cunha a partir de Gonga World





Este mesmo carro, ON - 14 - 68, foi um dos onze Mercedes 300SL importados em 1955, tendo chegado a Portugal em Junho desse ano para José Júlio Marinho, seu primeiro proprietário. Por curiosa ironia do destino, Ernesto Neves viria  a adquirir este "gullwing" alguns anos mais tarde, numa altura em que o mesmo se encontrava num estado de conservação que deixava algo a desejar (em baixo).

O ON 14 68 teve um caminho longo no automobilismo Português , desde o Conde Monte Real a Santos Mendonça . Com o FG 23 66 , foi o último a largar as corridas, no ano de 1964 .
Depois foram a cheia , o passeio pelo Tejo e outros problemas que o E Neves conhece melhor que eu , e hoje está bem de saúde na Itália.
 - Luis

Bibliografia - Mercedes em Portugal, de Adelino Dinis. Edições Vintage

IX Grande Prémio de Portugal 1960

Nem só de heróis portugueses se fez a história do automobilismo nacional das primeiras décadas, como aqui se constata. Os melhores pilotos e automóveis do mundo passaram por Portugal e em muito contribuíram para o desenvolvimento da paixão pelas corridas de automóveis em muitos milhares de pessoas que tiveram o privilégio de os ver em acção, tal como aconteceu com os autores deste espaço.
Esta extraordinária série de fotografias privadas, gentilmente cedidas por José Cabral Menezes, dá bem uma ideia das condições em que então se disputavam algumas corridas de Fórmula 1, nomeadamente no circuito da Boavista. Como se não bastasse o piso feito em "empedrado", rugoso e escorregadio, os verdadeiros Heróis que eram os pilotos daquela época ainda tinham que evitar os carris dos "eléctricos" e os fardos de palha que delimitavam alguns troços de pista.
Nas fotografias, o Ferrari nº 26 de Phil Hill, que abandonou por acidente, o Lotus Climax nº 12 de Stirling Moss e o carro idêntico de Innes Ireland, com o número 16. Jack Brabham, em Cooper Climax, seria o vencedor, tendo Jim Clark, em Lotus-Climax, conquistado o primeiro pódio da sua carreira, terminando em terceiro lugar. John Surtees, também em Lotus-Climax, obteve a sua primeira "pole"  e "Nicha" Cabral não conseguiu levar o seu Cooper-Maserati até ao fim da prova, devido a acidente.

Fotografias colecção José Cabral Menezes





Heróis Improváveis

A história das corridas de automóvel em Portugal não é feita apenas com vencedores e vencidos. Faz-se também com todos aqueles que participaram em provas apenas pelo prazer de participar e cujo objectivo era tão só  viver por dentro, ainda que de forma efémera, a grande aventura do automobilismo.
É para homenagear essas figuras, únicas e imprescindíveis, que hoje aqui trazemos alguns dos concorrentes ao Circuito de Vila Real de 1949, disputado numa altura em que a Europa estava ainda a sair da tragédia da II Guerra Mundial, o que justifica a presença em pista de automóveis pouco adequados a provas de velocidade, alguns dos quais tripulados por simples amadores locais. No Portugal de então quase nada acontecia de importante e as corridas de Vila Real traziam uma breve lufada de emoção a um país rural e deprimido que começava lentamente a recuperar de um atraso de décadas.
As imagens: 
 À esquerda, D. Afonso de Burnay, em Healey Westland Roadster e , à direita, António Pinto Correia, em Simca 8.
 Em baixo - António Camilo Fernandes, em Riley Sprite

Bibliografia:
 - Fotos Arquivo do ACP
 - Circuito de Vila Real 1931 - 1973, de Carlos Guerra




Supercortemaggiore 1953

Não foi feliz a participação de D. Fernando Mascarenhas no Grande Prémio Supercortemaggiore de 1953. O Ferrari 250MM ficou com a aerodinâmica alterada devido a uma saída de estrada, mas o piloto português escapou sem problemas de maior.
Este mesmo chassis, #0326MM, pertence agora a um coleccionador de Hong Kong e surgiu nas Mille Miglia de 1994 na configuração que pode ver-se na fotografia de baixo.





Um Midget na Parada

A "Parada", ou melhor, o Sporting Club de Cascais, era uma instituição de fortes raízes monárquicas que existiu entre 1879 e 1974, frequentada pela alta burguesia e pela aristocracia nacional e internacional, ao ponto de então se poder fazer a seguinte distinção entre as pessoas: "é-se da Parada, ou não se é". Consta que Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão frequentavam o local e tudo leva a crer que foi lá que se realizou o primeiro jogo de futebol em Portugal. 
Nos anos 50 foi construída nos jardins da "Parada" uma pista oval em cinza (ou gravilha), a exemplo das que existiam nos Estados Unidos e alguns países da Europa, onde se disputavam animadas provas de perseguição automóvel. Foi numa dessas competições que o Conde de Monte Real se apresentou com este Midget especialmente construído para este tipo de piso, um carro de corrida feito "à escala" e que vinha normalmente equipado com um motor monocilíndrico de 250cc, podendo no entanto existir outras versões consoante o regulamento das provas em que participavam.


Um dos muitos Midgets artesanais produzidos nos EUA e projectados especialmente para utilização em pistas de cinza ou gravilha.

II Rallye de Miramar 1949

A equipa formada por Jorge Seixas e Martinho Lacasta, em Allard, venceu brilhantemente o II Rallye de Miramar, disputado em volta daquela então lindíssima praia do norte de Portugal. Manuel Nunes dos Santos, acompanhado por Jaime Rodrigues, levaria o BMW 328 até ao terceiro lugar da classificação geral.
Um jovem quase desconhecido, Joaquim Filipe Nogueira, deu nas vistas ao vencer a III categoria, ao volante de um Simca.





Alguns dos participantes, em retrato de família. O Allard de Jorge Seixas está em primeiro plano.
Esta foto pertence à biografia de mestre Jaime Rodrigues publicada em www.interclassico.com

Helga Liné

Ontem, muito mais que hoje, as corridas de automóveis geravam em torno de si próprias um ambiente de "glamour" e sofisticação que poucos desportos poderiam reivindicar. O facto de alguns dos principais  protagonistas serem ricos aristocratas ou homens de negócios que se divertiam arriscando a vida, fazia com que o elemento feminino marcasse quase sempre presença em quantidade e, como se pode ver pela imagem, em qualidade.
A fotografia que se junta representa bem o "país a duas velocidades" que era o Portugal dos anos 50. A cena passa-se durante o fim de semana das corridas de Vila Real e nela se podem ver, à esquerda, o Marquês de Fronteira (D. Fernando Mascarenhas) e, à direita, o Conde de Monte Real (Jorge Melo e Faro). Entre ambos está a belíssima actriz Helga Liné e uma outra figura que não consegui (ainda) identificar.  Envolvendo este grupo e, presume-se que ardendo de espanto, está o povo rural, atrasado e esquecido de Trás os Montes. Seriam necessários pelo menos mais 20 anos para que as coisas começassem a mudar.
Helga Liné nasceu na Alemanha, em 1932, mas  procurou refúgio em Portugal logo no início da Segunda Grande Guerra Mundial. Foi acrobata e artista de circo, tornando-se depois modelo e actriz de teatro de revista. Como seria de esperar, não lhe faltaram "protectores" que a ajudaram a progredir na carreira e a entrar para o mundo mágico do cinema, onde acabou por conseguir uma certa notoriedade como protagonista de filmes de terror (quem diria?), a maior parte produzidos em Espanha.

Fotografia - colecção família D. Fernando Mascarenhas


Comentário de um leitor  parcialmente identificado, a quem muito agradeço a colaboração: 
"A pessoa não identificada,que está do lado esquerdo da Helga, era um dos melhores amigos do D. Fernando. Era meu pai e chamava-se Zacarias Pachancho, das Fabricas PACHANCHO de Braga."

No Meio da Grelha

Invulgar imagem obtida sensivelmente a meio da grelha de partida para o Grande Prémio do Porto de 1954. Nela são visíveis o Cooper T33 de Peter Whitehead, com o nº 8, o Talbot de Charles Pozzi, com nº5, o Ferrari 250MM nº 19 de Nogueira Pinto e o HWM nº9 de Georges Abecassis.
Charles Pozzi, que viria a tornar-se no representante da Ferrari para França, estava já no ocaso da sua carreira de piloto que, não tendo sido particularmente brilhante, ainda lhe permitiu participar, ao volante de um Talbot Lago, no primeiro Grande Prémio de França de Fórmula 1, que teve lugar em 1950
O vencedor da corrida da Boavista seria Luigi Villoresi, em Lancia D24.


Manoel Menéres

Seria impensável fazer uma abordagem à história do automobilismo português sem fazer uma referência especial a Manoel Menéres, um homem extraordinário que congregava em si próprio os genes de construtor, técnico,  industrial,  estratega, entusiasta, pioneiro, visionário, etc, que faziam dele uma figura ímpar do Portugal da primeira metade do século XX.
Fundador da empresa Manuel Alves de Freitas & Cia Lda, do Porto, o maior concessionário Ford do país, Manuel Menéres começa em 1930 a desenvolver uma estratégia de marketing assente na participação de automóveis da marca em competição. Para o efeito, dá início a uma intensa colaboração com Eduardo Ferreirinha, um "mago" da mecânica já com créditos firmados, e partem ambos para a criação de um veículo experimental a partir da mecânica de um Ford A. A adopção de cabeças Miller para o motor, as alterações do chassis e a construção de uma nova carroçaria acabaram por gerar resultados surpreendentes que se traduziram por vitórias na Rampa da Penha e no Quilómetro Lançado do Mindelo.
Em 1936, esta mesma parceria Menéres / Ferreirinha estaria na génese da primeira verdadeira equipa de corridas criada em Portugal, através da produção de três carros exclusivamente dedicados à competição e construídos a partir de chassis Ford amplamente modificados nos quais eram montados motores V8, também da Ford.

Manuel Menéres e uma das suas sua primeiras criações: o Ford A transformado por Eduardo Ferreirinha.


Apresentação da equipa Ford, em 1936. O carro nº 3 foi entregue a Eduardo Ferreirinha, o nº 2 a Gilles Holroyd e o nº 1 a Manoel de Oliveira, esse mesmo, o cineasta.

Bibliografia e fotos - "Manoel de Oliveira, piloto de automóveis", de José Barros Rodrigues. Edições Caleidoscópio, 2008.

Queria aproveitar para aqui recordar com saudade, meu Avô Manoel Menéres (1898-1974), pioneiro da marca Ford e um dos seus grandes impulsionadores em Portugal. Era um leader por natureza, um homem de visão. Marcou a sua época, deixou obra que se tornou bem patente, tanto no campo industrial, agrícola, como no social em prol dos mais desfavorecidos e ainda no automobilismo desportivo e aviação. ANTÓNIO MENÉRES

Um Toque de Classe

João de Castro não ficará na história do automobilismo nacional pelas suas conquistas em pista que, sendo respeitáveis, não se comparam com as obtidas por algumas grandes figuras do seu tempo. Porém, será reconhecido pela sua exuberante vida de "playboy" e pela invulgar generosidade  de que deu mostras quando se tratava de ajudar outros pilotos com mais talento mas com muito menos recursos financeiros. Nomes como "Mané" Nogueira Pinto, Borges Barreto e Américo Nunes, entre outros, dificilmente chegariam a ser o que foram se não tivessem o indispensável "empurrão" fornecido por João de Castro.
Cito Nicha Cabral, na sua magnífica biografia escrita por Adelino Dinis:
"Quanto ao Porsche do Mané, tinha sido comprado a João de Castro, que era representante da NSU e tinha um estabelecimento na Duque de Loulé. Era muito rico e ajudou Borges Barreto na sua carreira como piloto. O João de Castro gostava muito do Mané e se o Carrera não lhe foi oferecido, pouco faltou."
 Na imagem, obtida durante a Taça Cidade de Lisboa de 1954, João de Castro (nº10), apresenta-se com o Porsche 356 mais configurado para um Concurso de Elegância (note-se a faixa branca nos pneus…) do que para uma prova de velocidade. Como se tal não bastasse, "escondeu-se" debaixo do pseudónimo Norberto Paz com o objectivo de fazer com que as suas proezas automobilísticas não chegassem aos ouvidos do pai Castro e se acabassem os financiamentos que os seus 29 anos de então exigiam.
Já não há Heróis assim...
Na outra imagem vê-se o mesmo carro, semanas antes, submerso por um manto de neve em … Monsanto.
Sim, nevou copiosamente em Monsanto no ano de 54.
Bibliografia:
- Nicha, de Adelino Dinis
- Fotografias - Colecção Domingos Palha da Costa e família João de Castro.


Os Louros do Vencedor

D. Fernando Mascarenhas não era apenas, como alguns tentavam fazer acreditar, um rico aristocrata que se divertia fazendo corridas de automóveis. Tinha talento e cultivava (às vezes de forma excessiva) o risco, factores que em conjunto lhe proporcionaram algumas indiscutíveis e mercidíssimas vitórias.
Uma delas aconteceu no circuito de Monsanto de 1954, quando D. Fernando se sagrou vencedor da Taça Cidade de Lisboa ao volante de um Jaguar XK120. A seguir classificaram-se Filipe Nogueira (Porsche 356), em 3º João Lacerda (Alfa Romeo 1900), 4º Nunes dos Santos (Alfa Romeo 1900), 5º Alberto Graça (Porsche 356), 6º Abreu Valente (Porsche 356), 7º João Graça (Porsche 356) e em 8º João de Castro (Porsche 356), que corria sob o pseudónimo "Norberto Paz". Filipe Nogueira(2,000cc) e Alberto Graça (1300cc) venceriam as respectivas classes.
Na imagem, D. Fernando Mascarenhas em pose de vencedor, encostado ao Jaguar, tendo do lado oposto a imagem sempre presente do seu "anjo da guarda", Manuel Palma, o responsável pela preparação do carro.



João Lacerda / Jaime Azarujinha, Monte Carlo 1952

João Lacerda tem o seu nome definitivamente ligado à história do automobilismo em Portugal, quer pelos resultados desportivos obtidos em muitas e difíceis competições, quer pelo vasto legado que deixou atrás de si e que hoje muito enriquece o património desportivo (e cultural) do nosso país. O Museu do Caramulo, por exemplo.
Em 1952, João Lacerda e Jaime Azarujinha partiram à conquista de Monte Carlo, abordando aquela que era (e continua a ser) a prova raínha do calendário internacional. Ao volante de um improvável Citroen 15 / 6 "traction avant", a equipa portuguesa conseguiu um brilhante 13º lugar absoluto, sendo o melhor de todos os carros da marca à chegada. Assim começou a escrever-se a fantástica história da Citroen no Mundial de Ralis, a qual ainda hoje perdura com os resultados que se conhecem.
Os vencedores da extremamente difícil edição de 1952 seriam Sidney Allard e Guy Warburton, em Allard P1, tendo Stirling Moss e John Cooper (que luxo de equipa!!!) terminado em segundo lugar da Geral, com um Sunbeam Talbot. Partiram 328 concorrentes, mas apenas 167 chegaram ao fim, o que diz bem da dureza da prova.
Junto uma esclarecedora imagem do Col de Braus, onde se disputou uma prova de regularidade com 74 quilómetros de extensão e que subia acima dos 1,000 metros de altitude. Os relatos da época dizem que havia tanta neve acumulada em cima das árvores que estas se inclinavam perigosamente para cima da estrada.
Bibliogafia:
- Revista Topos & Clássicos nº 106, Fev 2010
- The 1952 Monte Carlo Rallye, by Goran Norlander
Fotos - João Lacerda
 

 Em baixo, duas imagens que atestam bem as dificuldades que os concorrentes tiveram de enfrentar.