José Emídio da Silva

José Emídio da Silva foi um dos pilotos mais marcantes do início da década de 50, não só pelos interessantes resultados conquistados mas também pela sua fidelidade à marca Panhard, que galhardamente representou durante a maior parte da sua carreira desportiva. Com o DB Panhard que se vê nas imagens participou no Rallye Internacional de Lisboa (Estoril) de 1952, bem como no Circuito da Primavera de Vila do Conde, onde venceu a categoria respectiva. Ainda nesse mesmo ano participou no Campeonato de Rampas, tendo vencido a categoria V. Em 1953 vence a categoria 750 cc da Taça Cidade do Porto, integrada no Grande Prémio de Portugal, apesar do jornalista de serviço ao Jornal de Notícias ter achado que "José Emídio da Silva, que nos primeiros treinos não nos agradara pela forma como atacava as curvas, tirou óptimo rendimento desta sessão de fim da tarde".
Este mesmo DB Panhard continua em Portugal, está a ser recuperado e em breve voltará à estrada. Falta, porém, um detalhe muito importante: qual seria a sua cor quando participou nestas provas? Poderá algum dos leitores ajudar a devolver à sua forma original esta bela peça do nosso património desportivo comum?

Colaboração de Angelo Pinto da Fonseca


 Volta a Portugal 1954

Taça Cidade do Porto 1953

Carlos Moniz Pereira

Carlos Moniz Pereira (ao volante) terá sido o primeiro português a dar a Volta a Portugal em automóvel, proeza conseguida em 1927 numa altura em que partes do país só eram acessíveis com recurso a burros e outros animais de carga e transporte. Moniz Pereira era o representante para Portugal da marca FN, um gigante da indústria metalo-mecânica da Bélgica que se dedicava essencialmente ao fabrico de armamento mas que também produzia bicicletas e automóveis, pelo que o veículo utilizado nesta aventura só podia ter sido um "FN". Não se conhecem detalhes desta epopeia, mas Moniz Pereira filho (o treinador do Sporting) conta que os corajosos Heróis de então foram forçados a utilizar barcaças e parelhas de bois para atravessarem rios e riachos de Portugal em locais onde muitas pessoas não sabiam sequer o que era uma ponte.

Fotografia - arquivo do ACP




Kieft

O Kieft de Andre Barbey foi provavelmente o carro mais invulgar que se apresentou à partida para a III Taça Cidade do Porto, prova incluída no programa do V Grande Prémio de Portugal disputado em 1955 no circuito da Boavista. A Kieft teve origem no final de década de 40 em Inglaterra, a partir de um projecto idealizado por Cyril Kieft e Stirling Moss, os quais começaram por produzir carros de fórmula (F500 e Fórmula 3) que vieram a revelar-se francamente competitivos. Mais tarde, e já sem Stirling Moss na companhia, a Kieft construiu um modelo de Sport destinado a competir na classe até 1100cc, tendo para o efeito utilizado um motor Coventry Climax de 1098cc que debitava uns mais que razoáveis 72 cavalos. Apesar disso, a passagem do Kieft de Andre Barbey pelo circuito da Boavista foi bastante modesta, acabando por dar apenas 5 voltas ao circuito no dia da corrida, em vez das 20 programadas. 
Reparem no extraordinário instrumento que o piloto ostenta no seu pulso esquerdo. Cronómetro?

Bibliografia
- Cyril Kieft, by Jim Evans
- Revista do ACP maio/junho 1955
Foto - colecção Duarte Pinto Coelho

A característica mais curiosa deste carro era ter volante central e um lugar de cada lado do condutor (onde na foto se vê uma tampa amovível, do outro lado tinha outra igual...)
Duarte Pinto Coelho 

Alfredo Marinho Júnior

Fotografia de Mário Novais datada de 30 de junho de 1927 e referente ao chamado Grande Prémio da Curia, uma prova disputada num circuito que percorria Anadia, Luso e Mealhada, com partida e chegada na Curia. A extensão da corrida era de 150 km, o que significava que o circuito, com cerca de 37 km de perímetro, teria de ser percorrido quatro vezes. Alfredo Marinho Júnior, na foto, seria o vencedor e era também o único piloto inscrito para o "Grande Prémio". Para evitar embaraços maiores, Carlos Moniz Pereira (pai do prestigiado treinador de atletismo com o mesmo nome) abandonou temporariamente as suas funções de Director e Júri do ACP e alinhou o seu FN, marca de que era representante em Portugal, para partir um minuto depois do Bugatti. Acabaria batido por 13 minutos e 31 segundos mas deu um pouco mais de dignidade à prova. Uma das rodas da frente do "FN" aparece do lado direito da fotografia.

Fotografia - Biblioteca de Arte Fundação Calouste Gulbenkian
Bibliografia - "Primeiro Arranque", de Vasco Calisto - "Subsídios para a história do automobilismo em Portugal, 1908-1940"




Mais Denzel

Então aqui vai mais uma "acha" para o debate dos Denzel em Portugal. A fotografia que se mostra não está datada nem estão identificados o carro nem o seu proprietário/condutor. Presume-se que a acção  se passa numa prova de estrada obviamente disputada no norte do país.
Juntam-se alguns comentários de leitores inseridos no post anterior sobre os Denzel portugueses e cópia de uma informação da Conservatória do Registo Automóvel a propósito do GD-67-69

Trata-se de Ernesto Martorell no Rallye da Montanha de 1964 (APF)


Quero aqui deixar, como pequena contribuição, a informação de que disponho sobre estes carros.
Assim começo com uma pequena correção, o carro que Martorell partilhou com Filipe Nogueira nas 12 horas de Casablanca tem a matricula CG-19-75 e não GC- como foi mencionado.
O GD-67-69, que se encontra atualmente na Alemanha, pertenceu efectivamente ao Mauricio Macedo, irmão do conhecido piloto Horácio Macedo, pois eu vi-o pessoalmente em sua casa no Paço da Glória perto de Arcos de Valdevez, em 1990.
Aproveito ainda para juntar à lista os Denzel de Matricula GG-21-31 com Nº de Chassis #DK29 e o CL-21-75 com Nº de Chassis #DK31.
Cumprimentos JP Ferreira


Desconhecia totalmente esse sétimo Denzel, posso adiantar que se trata do chassis DK 152, um dos últimos a serem produzidos, já que julgo que o último terá sido o chassis DK 164. Entretanto encontrei nos meus apontamentos o número de chassis do Denzel de D. António Herédia, é o DK 36. É um prazer partilhar o pouco que posso acrescentar aos vossos conhecimentos! Um abraço José Correia 


Relativamente à foto agora publicada quero referênciar que ela foi publicada pela 1ª vez no Blog da "Ass.Amarante de Automóveis Antigos" com a seguinte legenda: "O associado e amigo Mário Pinto cedeu-nos esta belíssima fotografia de um dos muitos ralis que passavam em Amarante nos anos 60.
A foto é certamente de seu pai, o grande fotógrafo Eduardo Teixeira Pinto a quem rendemos aqui a nossa singela homenagem pela sua brilhante carreira.
O local é claramente a Rua Joaquim Leite de Carvalho, junto ao "Nosso Café", vindos provavelmente dos lados de Celorico de Basto, depois de fazerem a Senhora da Graça e a Cabreira".
Posteriormente o mesmo Mário Pinto acrescentou que provalvelmente se tratava do Denzel conduzido por D. António Herédia.
A foto não permite ver completamente a matricula mas parece terminar em -75. 

JP Ferreira

Estudo

Estudo para uma tela da autoria do artista Ricardo d´Assis Cordeiro onde surgem os Bugattis de Jorge Monte Real (35C #4954) e Henrique Lehrfeld (35B) em plena luta durante o I Circuito do Estoril de 1935, tendo em fundo o majestoso Palácio Hotel. A corrida viria a ser ganha por Francisco Ribeiro Ferreira, também em Bugatti, tendo Monte Real terminado na segunda posição
Para mais informações  sobre o trabalho deste artista clique aqui


Em baixo (à esquerda), os Heróis do II Circuito do Estoril de 1937. Da esquerda para a direita: o Conde de Monte Real, Henrique Lehrfeld, Manoel de Oliveira, E. K. Rayson e Benedito Lopes. O inglês Edward Rayson tripulava um Maserati 4CM com 1496 cc de cilindrada e compressor, em representação do British Racing Drivers Club. Quanto a Benedito Lopes, era um piloto brasileiro que tripulava um Alfa Romeo 8C 2300 pintado de verde e amarelo, as cores do Brasil (à direita)

Campeonato de Rampas 1951

Jorge de Melo e Faro, Conde de Monte Real, foi um dos melhores e mais bem sucedidos pilotos da sua geração tendo conquistado um número importante de vitórias ao longo da sua carreira, utilizando para o efeito vários tipos de carros de competição. Em 1951 foi Campeão Nacional de Rampas ao volante do competitivo Ford Ardum preparado por Manuel Palma (imagem de cima) tendo vencido, entre outras, a Rampa da Arrábida. Na outra imagem vê-se o carro do vencedor a ser observado por outra figura lendária do automobilismo nacional, Francisco Ribeiro Ferreira, já retirado da competição e na altura presidente da Comissão Desportiva Nacional do ACP.



Concordo na totalidade com o autor. O Conde de Monte Real no inicio da década de cinquenta foi dos melhores
pilotos que Portugal teve, senão o melhor . O Conde, com o Ford Ardum, foi um "Allard killer" ; é um carro que gostaria de ter mais informaçao das suas transformaçoes . Sei que tinha o V8 com transformação Ardun , o chassis parece me ser de um Ford B , quanto ao resto ?


Luis

António Herédia Bandeira

António Guedes Herédia teve uma curta mas interessante carreira desportiva ao volante do seu Denzel 1300, um carro que comprou em 1954 e que ainda hoje conserva. Disputou a sua primeira prova em 1955, o Quilómetro de Arranque do Clube 100 à Hora, que se realizava numa estrada junto ao aeroporto de Lisboa, tendo vencido a respectiva categoria. Disputou também o Campeonato Nacional de Condutores desse ano, tendo conquistado um honroso terceiro lugar na categoria Sport. Em 1956 ainda participou no Rallye de S. Pedro de Moel mas mais tarde, em 1959, o Denzel dá início a um longo período de "hibernação" que só terminaria em 1986, altura em que o carro é enviado para a Austria para ser restaurado pelo seu próprio fabricante, Wolfgang Denzel, que há muito deixara o negócio de automóveis mas que tinha grande prazer em ajudar a recuperar os pequenos bólides que com tanto carinho e engenho produzira. 
Depois do restauro o pequeno Denzel veio "a rolar" até Portugal e deu início a uma segunda carreira desportiva, agora bem mais calma, mas que lhe permitiu participar nas Mille Miglia de 1989, onde António Herédia Bandeira fez equipa com Vasco Pinto Basto. Terminaram a clássica italiana em 150º lugar, entre 300 participantes. Mais tarde, o mesmo carro e o mesmo piloto voltariam às Mille Miglia, desta vez com Carlos Nunes dos Santos como navegador e companheiro de aventura.

Colaboração dos engºs João Lopes da Silva e Vasco Pinto Basto.
Bibliografia - Revista do Clube Português de Automóveis Antigos, nº22

                                                          António Herédia Bandeira, Rallye a Sintra 1955                                                                                   



Circuito de Monsanto, 1957. O Denzel de D. Afonso de Burnay (na foto) conseguiu terminar a corrida, ainda que com um atraso considerável em relação ao vencedor. Já o carro idêntico de D. António Guedes  Herédia, tio de António Herédia Bandeira e importador dos Denzel para Portugal,  viria a completar apenas 8 das 20 voltas da corrida.

É Afonso Maria Pacheco de Burnay na corrida da Taça Cidade de Lisboa, Monsanto 1957.
Terminou em 9º depois de cumprir 17 das 20 voltas da corrida.
António Guedes de Herédia, Visconde da Ribeira Brava “... mas eu não gosto de títulos...” como dizia quando se falava no assunto, tio do outro cavalheiro aí mencionado, António Alberto Herédia da Bandeira, 5º conde de Porto Covo da Bandeira, retirou-se com 8 voltas completadas.
E, já agora, o outro Denzel, o #1 Daniel Magalhães, ficou dois furos abaixo de Afonso de Burnay, também com 17 voltas.
E é tudo por agora, aqui da Torre do Lombo, que é o sítio onde se guarda a carne mais tenra...
Abraços
Carlos Guerra