Um Português nas Mille Miglia 96

26 de Junho de 1955, Circuito da Boavista, Porto. Louis Rosier, um dos mais brilhantes pilotos franceses da sua geração, apresenta-se à partida para o Grande Prémio de Portugal ao volante do seu recém adquirido Ferrari 750 Monza #0520M com o qual já tinha conseguido nesse mesmo ano um 2º lugar no Grande Prémio de Dakar e uma brilhante vitória nas 4 Horas de Forez. A corrida portuguesa não lhe correu particularmente bem e Rosier teve que se contentar com um modesto 6º lugar na classificação geral a duas voltas do vencedor, Jean Behra em Maserati 300S*. No ano seguinte o consagrado piloto francês ainda participou com este carro no Grande Prémio de Agadir, que não terminou, e no final do ano sofreu um violento e trágico acidente durante a Coupe du Salon disputada no circuito de Monthléry. Sem razão aparente Rosier perdeu o controle do Ferrari 750, que se despistou provocando lesões graves ao piloto que faleceu dias depois.
Quarenta anos passados sobre os trágicos acontecimentos de 1956 o Ferrari 750 Monza #0520M surge nas Mille Miglia 1996 pelas mãos do português José Manuel Albuquerque que cumpriu sem dificuldades de maior o longo percurso da clássica italiana apesar do intenso nevão que caiu sobre o Monte Terminillo, próximo de Roma. Ainda em 1996 o mais internacional dos pilotos "históricos" portugueses viria a participar com este mesmo carro no Grande Prémio Histórico de Mónaco, no Oldtimer Grand Prix de Nurburgring, em Monza e em Mugello. No ano seguinte voltou a estes mesmos circuitos e disputou também a Targa Florio e o Circuito de Silverstone, provas integradas no Shell Ferrari Historic Challenge. Em 1997 Albuquerque e o Ferrari separaram-se após o Circuito de Dijon, altura em que o #0520M passou a integrar a colecção de Karl-Friedrich Scheufele, o patrão da Chopard, que com ele tem aparecido episodicamente em provas internacionais de rali.
* Este mesmo Maserati 300S continuaria a ganhar corridas pelas mãos de Fangio e Stirling Moss vindo mais tarde a pertencer também a José Manuel Albuquerque. Voltaremos ao assunto em breve.
Fotos - Louis Rosier ao volante do Ferrari 750 Monza #0520 com o nº2 no Grande Prémio de Forez 1955, o mesmo carro pilotado por José Manuel Albuquerque nas Mille Miglia 96 e o cartaz desta prova.





Nicha Cabral 1959

Mais imagens de Mário Araújo Cabral, o popular "Nicha", na sua corrida de estreia em Fórmula 1 ao volante de um Cooper-Maserati T51 durante o Grande Prémio de Portugal de 1959 disputado no circuito de Monsanto.
Fotografias de George Philips




João Castello Branco no VI Rallye Internacional de Lisboa 1952

Em Simca 8, fazendo equipa com José Carvalhosa (3 fotos, partida, prova complementar no Estoril e pose ao melhor  estilo James Dean de trazer por casa). Chegaram ao Estoril com uma penalização de 4 pontos por atraso num controle de estrada
Após a 1ª prova complementar estavam no 44º lugar  da geral e no  7º lugar da 4ª categoria (viaturas até 1100 cc), nos três primeiros lugares desta classe, estavam dois  Porsches 356  1100 cc de Max Nathan e Alberto Graça, seguidos de John Reece em Ford Anglia. 
Após 1ª PC a geral ficou assim ordenada:
1º   J. F. Nogueira em Porsche 356 1500
2º  E. Martorell em Porsche 356 1500
3º  M.Marçal Mendonça em Simca  8 Sport
4º  Daniel Magalhães em Morgan 2088 cc
5º  João Graça em Porsche 356 1500
6º  C. Monte Real em Allard
7º  Joaquim Cardoso em Jovelin Jupiter
8º  Max Nathan em Porsche 356 1100
9º  Nestor Sosa em Jaguar Mark VII
10º M. Grosgogeat em Dyna-Panhard

Da 2ª prova  complementar, circuito velocidade/regularidade (3 voltas), não tenho as classificações, sei apenas que JCB foi o concorrente que a fez com a menor diferença entre as três voltas (2 décimos de segundo), conforme notícia de jornal cujo recorte possuo, que só não remeto porque o jornalista que assinou o texto (Rui de Sousa) fez um discurso laudatório da prestação do meu Pai, cuja publicação poderá ser mal interpretada.
Após a 2ª PC a geral ficou assim ordenada:

1º  J.F.Nogueira em Porsche 356 1500
2º  C. Monte Real em Allard
3º  F. Mascarenhas em  Porsche 356 1500
4º  Van Hoesch em  Porsche 356 1500
5º  Marçal Mendonça em Simca 8 Sport
6º  Daniel Magalhães em Morgan
7º  Simon Hansen em  Aston-Martin
8º  João Graça em Porsche 356 1500
9º  Max Nathan em Porsche 356 1100
JCB quedou-se por um modesto 44º lugar (8º na categoria)

Texto e fotos - João Castello Branco

Monte Carlo 53

Após o sucesso de 1951 (2º lugar da geral) e da participação honrosa em 1952 a equipa formada pelo Conde de Monte Real e Manuel Palma voltou a participar no Rallye de Monte Carlo quando da edição de 1953, desta vez aos comandos de um Allard. Esta não foi uma prova de boa memória para os desportistas portugueses uma vez que três dos Porsche 356 partidos de Lisboa foram fortemente penalizados por razões regulamentares e o Allard nº 52 acabou por abandonar. Mas nem por isso o Conde de Monte Real deixou de celebrar.
Fotos de Rudolph Mailander



MONACO 1952


D. Fernando Mascarenhas participou no Grande Prémio de Mónaco de 1952 ao volante do Allard J2X inscrito com o número 100. Qualificou-se no 17º lugar da grelha de partida e completou 64 das 100 voltas previstas para a corrida, tendo abandonado com uma avaria no sistema de combustível. O Vencedor seria o Conde Vittorio Marzotto em Ferrari 225S.
Fotos de Rudolph Mailander



Monte Carlo 1951

O Ford 100 CV  da equipa portuguesa formada pelo Conde de Monte Real, Manuel Palma e D. Fernando Mascarenhas durante uma prova complementar a contar para o Rallye de Monte Carlo de 1951 disputada no mesmo traçado do Grande Prémio. Nunca será demais recordar que o segundo lugar da classificação geral então conquistado pelos nossos compatriotas não mais seria igualado (muito menos melhorado) por qualquer concorrente português a esta grande Clássica do desporto automóvel mundial.
Foto de Rudolfo Mailander



A Estreia

A 23 de Agosto de 1959 disputou-se no circuito de Monsanto o VIII Grande Prémio de Portugal, prova que contava para o Campeonato do Mundo de Condutores e onde pela primeira vez um piloto português marcou presença numa corrida de Fórmula 1. A responsabilidade coube a Mário Araújo Cabral, o popular "Nicha", que para o efeito utilizou um Cooper Maserati T51 alugado pelo ACP à Scuderia Centro Sud, propriedade do italiano "Mimmo" Dei. A estreia não foi brilhante mas foi suficientemente digna para que a carreira do piloto português pudesse ter continuidade. De facto "Nicha" terminou a corrida em décimo e último lugar com seis voltas de atraso relativamente ao vencedor, Stirling Moss, e esteve involuntariamente envolvido no acidente que levou ao abandono do Cooper Climax de Jack Brabham. Apesar deste princípio pouco auspicioso "Nicha" Cabral viria a construir uma muito respeitável carreira no desporto automóvel a nível global.
As imagens são de George Phillips
De cima para baixo, o BRM type 25 de Harry Schell a ser ultrapassado por um "distraído" Nicha Cabral, o mesmo "Nicha" seguido por Carrol Shelby em Aston Martin DBR4 e finalmente pelo Cooper Climax T51 de Maurice Trintignant.





A Primeira Vitória da Jaguar


Vila Real, 20 de Junho de 1937. Uma dezena de concorrentes apresenta-se à partida para o VI Circuito Internacional, estatuto que é conferido à prova transmontana pela presença do Adler Trumpf Sport especialmente preparado e modificado para ser conduzido pelo Príncipe Max Schaumburg-Lippe, um membro da alta aristocracia alemã que construiu uma respeitável carreira automobilística que incluiu participações nas 24 Horas de Le Mans, Mille Miglia, 1000 km Nurburgring, etc. Entre os portugueses há a registar a estreia em competição do recém adquirido SS100 Jaguar inscrito por Casimiro de Oliveira. Trata-se do chassis #18026 a que foi atribuída a matrícula do Porto N-17275, mais tarde reformulada para MN-72-75 e que ainda hoje continua em Portugal. Entre os candidatos à vitória contava-se também o EDFOR de Eduardo Ferreirinha, um carro de corrida produzido pelo próprio com base numa mecânica Ford e que chegou a conhecer um apreciável sucesso.
Após acesa disputa com o Edfor de Ferreirinha e o Adler do príncipe alemão  Casimiro de Oliveira acabou por vencer a corrida colocando pela primeira vez o nome Jaguar na lista dos vencedores em competições de velocidade a nível internacional. Poucos saberão que foi um português, Casimiro de Oliveira, a ter a honra de conquistar a primeira das muitas vitórias que a marca Jaguar coleccionou ao longo da sua existência.
Embora o fabricante SS utilizasse a designação Jaguar desde 1935 só dez anos depois é que  a marca adoptou oficialmente o nome que ainda hoje perdura. No que respeita ao significado da vitória portuguesa seria a própria Jaguar a atestar tratar-se da primeira da sua história, tal como consta do documento junto.
Fast Forward para 1992 e vamos encontrar este mesmo carro a participar na edição desse ano das Mille Miglia pelas mãos do seu actual proprietário, José Manuel Albuquerque, de longe o português com maior número de participações na clássica italiana e em provas internacionais históricas de velocidade. Saliente-se o facto de apenas três outros portugueses, João Lacerda, José Romão de Sousa e António Bandeira, terem conseguido ver as respectivas inscrições serem aceites para as Mille Miglia. O primeiro chegou mesmo a participar na versão original da prova durante a década de 50 e o terceiro conseguiu por duas vezes ser aceite para a versão mais recente de regularidade histórica.








Imagens: José Manuel Albuquerque e o SS100 Jaguar nas Mille Miglia 1992, Casimiro de Oliveira em Vila Real 1937, a luta entre o Adler de Schaumburg-Lippe e o SS100 Jaguar de Oliveira, o anúncio da revista Autocar de Maio de 1945 onde se dá conta da mudança de nome .

Fotos - José Manuel Albuquerque
Bibliografia - O Circuito de Vila Real 1931 - 1973, de Carlos Guerra