A Partida

Lisboa, rua Rosa Araújo, junto da sede do ACP. Partida da equipa nº 48 concorrente ao Rallye de Monte Carlo de 1952 formada pelo Conde de Monte Real e Manuel Palma, que tripulavam um Simca Aronde. Este era um dos setenta e três automóveis que escolheram a capital portuguesa para fazerem o percurso de ligação até Monte Carlo, num total de trezentos e vinte e oito participantes. Porém, a falta de fiabilidade do carro impediu a experiente equipa portuguesa de terminar a prova, a mais dura do calendário internacional daquela época.
O Conde de Monte Real tinha obtido um excelente segundo lugar na edição do Rallye de Monte Carlo do ano anterior ao volante de um Ford 100 cv, já com Manuel Palma por companhia. A escolha do modesto Simca 9 Aronde, equipado com um motor de 1221cc que debitava apenas 45 cv de potência, poderá ter sido fatal para as ambições dos portugueses. Não obstante, um exemplar deste carro saído aleatoriamente da linha de montagem conseguiu em 1952 percorrer 100 mil quilómetros seguidos no circuito de Monthléry sem qualquer espécie de problema mecânico. Chapeau!
Foto - Bibioteca de Arte Calouste Gulbenkian, estúdios Horácio Novais.





Duelo ao Entardecer

III Circuito de Vila do Conde, disputado a 31 de Agosto de 1952. Vasco Sameiro, no Ferrari 225S nº 20,  partiu da "pole" e vai comandar a corrida até à quarta volta, altura em que desistirá por avaria (diferencial partido). Casimiro de Oliveira segue logo a seguir num carro idêntico e acabará por ser o grande vencedor da tarde com larga vantagem sobre o segundo classificado, D. Fernando Mascarenhas, que também tripulava um Ferrari 225S.
O III Circuito de Vila do Conde foi preparado em apenas três dias por um grupo de "carolas" vilacondenses formado por Zacarias Peixoto, Eduardo Pinto, José Teixeira da Silva e Miguel Ferreira. Contando com o apoio do ACP e do Presidente do Município, Bento Amorim, os organizadores conseguiram montar duas corridas: uma para carros até 1500 cc de cilindrada e outra para motores de capacidade superior que mais parecia um troféu monomarca, já que foi disputada por cinco Ferraris: três  225S, um 340 America e um 166MM
Fotografia do jornal "O Volante"
Bibliografia - jornal "Renovação" de 6 de Setembro de 1952. Biblioteca José Régio, Vila do Conde.


Simon Knudsen Hansen

À primeira vista não parece mas o concorrente nº 125 ao VI Rallye Internacional de Lisboa (Estoril), Simon Knudsen Hansen, é tão português como qualquer um de nós. Descendente do Capitão Didrik Knudsen, um norueguês que em 1882 chegou a Lisboa a bordo do seu navio "Professor Mohn" e por cá foi ficando, Simon Knudsen Hansen viria a distinguir-se como piloto de automóveis ao volante de um HRG, como consta de uma história aqui publicada anteriormmente. Em 1952 conquistou um notável sétimo lugar absoluto na edição desse ano do Rallye Internacional de Lisboa (Estoril) tripulando um Aston Martin DB2.
Foto - Centro de Documentação do ACP


A Maior Aventura do Mundo

Em 1907 um pequeno grupo de "gloriosos malucos" propôs-se fazer aquilo que na altura muitos consideravam ser "A Maior Aventura do Mundo", a ligação Pequim-Paris por via terrestre. Eram cerca de 13 mil quilómetros para percorrer através das montanhas e desertos da China, Mongólia, Rússia, etc, numa época em que as estradas eram virtualmente inexistentes, os automóveis (?) pouco fiáveis e a insegurança generalizada. O primeiro carro a chegar a Paris foi o ITALA vermelho do Príncipe Borghese, uma proeza extraordinária que teve eco em todo o mundo e faria com que a partir de então todos os carros de competição feitos em Itália tivessem a cor vermelha.
"Fast Forward" para 2007 quando nada menos que 133 automóveis "clássicos" convergem em Pequim para cem anos depois reviverem a grande aventura. Por coincidência (ou não) o número 100 seria atribuído à equipa portuguesa formada por Milu e José Romão de Sousa, que tripulavam um MG Magnette ZA de 1956. Trinta e cinco dias depois, após 12,642 km percorridos através de montes, desertos e vales com muitas peripécias à mistura, a valente representação nacional chegou a Paris intacta, com o carro a funcionar e dentro do tempo previsto para cumprir a gigantesca aventura. Chapeau!
A fotografia em B&W (de autor desconhecido) documenta o ITALA do Príncipe Borghese a ser empurrado algures num local remoto. As restantes imagens  são de Gerard Brown
Nota - Não deixem de ver a tabela com os percursos diários. Impressionante.









III Rallye de Miramar 1950

Vitória de João Castello Branco no III Rallye de Miramar na classe 2,000 cc ao volante de um Standard Vanguard. Junta-se o relato de João Castello Branco filho:
"Continuando no ano de 1950 envio-lhe elementos sobre a participação no III Rallye Miramar (uma foto de uma travagem de uma complementar; um croquis das complementares; um recorte com as classificações e uma foto da entrega de prémios)
O rallye além de uma prova de estrada teve 2 complementares, com as seguintes classificações:
1ª PC 
1º Cemente Menéres - Ford - 20,60 segundos
2º JCB - Vanguard  - 21,31
3º Duarte Gonçalves -  Nash - 21,36
4º Joaquim Filipe Nogueira- MG - 21,39
5º C. Monte Real - Allard - 21,69
  
2ª PC
1º  Clemente Menéres - Ford - 1.11,27 m
2º C.Monte Real - Allard - 1.11,26
3º  Mário Guimarães - Lancia - 1.12,15
4º António Joaquim Correia - Ford - 1.13,79
5º  Joaquim Filipe Nogueira - MG - 1.14,03
13º JCB - Vanguard - 1.17,90
Os valores que serviram para ordenar a classificação geral constituiram-se na base de 1 ponto por cada segundo de tempo gasto em cada PC. Como só possuo os valores relativos à Geral e à 2ª PC obtive os relativos à  1ª PC por  diferença, correndo o risco de errar devido a uma qualquer penalização atribuída e que desconheço. Fica a ressalva.
Na fotografia de grupo reconheço apenas nos sentados da esq/dir: em 5º lugar o Conde Monte Real seguido do meu Pai e do Joaquim Filipe Nogueira.É provável que o 4º seja o Clemente Menéres a avaliar pelo nº de taças."


Yvonne Simon

Causou a maior sensação no Circuito do Porto de 1951 o facto de entre os participantes constar o nome de uma senhora ao volante de um Ferrari 166 MM Berlinetta Touring. Tratava-se de Yvonne Simon, um nome desconhecido em Portugal mas que já se afirmara no desporto automóvel europeu nomeadamente através de um vitória na Coupe des Dames do Rallye de Monte Carlo 1939. Viria ainda a participar por duas vezes nas 24 horas de Le Mans (1950/51) e seria a vencedora absoluta do Circuito de Nice de 1951, sempre com o Ferrari 166. No Circuito do Porto a "madame" Simon, como por cá era conhecida, conquistou a vitória na II Classe e terminou num muito respeitável 4º lugar absoluto. Felice Bonetto, em Alfa Romeo, seria o vencedor.
No momento da partida podem ver-se Carini (Osca nº 11), Wisdom (Jaguar nº 3) e Casimiro de Oliveira (Allard nº 19) na primeira fila, seguidos pelo Allard de José Cabral (nº 18) e Jaguar XK120 de Aquiles de Brito, vindo depois o BMW nº 7 de Nunes dos Santos e o Ferrari 166 nº 2 de Yvonne Simon.
Fotos - Centro de Documentação do ACP

Flying Scotsman 2015

De forma a diversificar o conteúdo desta página mantendo porém como referência os portugueses e os automóveis de desporto anteriores a 1960 iremos agora dar conta das aventuras de alguns dos nossos compatriotas nos grandes palcos internacionais dos automóveis antigos.
Para começar, nada melhor que apresentar Maria e José Romão de Sousa, uma equipa portuense com larga experiência em rallyes e maratonas internacionais destinadas a veículos clássicos ou "pre-war" e que recentemente esteve presente no Flying Scotsman Rallye 2015 tripulando um Alvis Speed 20 SA de 1932 com o número 90, uma prova que levou 115 equipas a percorrerem mais de 1,200 km através da Escócia em condições frequentemente tidas como "desfavoráveis". Passando-se isto no Reino Unido a expressão só pode ser tida como um "understatement".
A classificação? Who cares?
Fotografias - Sports Car Digest e JRS
Alvis Speed 20 - foram produzidos 1165 carros deste tipo entre 1932 e 1936, dos quais 400 unidades na versão SA. Vinham equipados com um motor de 6 cilindros em linha de 2500 cc de cilindrada alimentado por três carburadores SU debitando cerca de 87 cavalos de potência.