Os Planos do Alba, parte II - O Motor

Na impossibilidade de encontrar no mercado um motor a preços acessíveis que permitisse ao Alba ser competitivo na nova categoria limitada a 1500 cc os responsáveis pelo projecto decidiram produzir na fábrica de Albergaria o seu próprio motor. Foi assim que surgiu este  4 cilindros em linha "super quadrado" (78 mm de curso e diâmetro), com 1490 cc de cilindrada, totalmente construído em alumínio e dotado de duas árvores de cames à cabeça e duas velas por cilindro. A alimentação era assegurada por dois carburadores Solex.
Com agradecimentos a António Peixinho






 

Os Planos do Alba, parte I

Produzido em 1952 na Fábrica Metalúrgica Alba sob a orientação de António Augusto Martins Pereira, Ângelo Oliveira e Costa e Francisco Corte Real Pereira o Alba foi um dos primeiros automóveis de competição fabricados no nosso país tendo em vista a participação em provas de velocidade na categoria até 1100 cc. Mais tarde tornar-se-ia no primeiro (e único) carro de corrida equipado com um motor totalmente concebido e produzido em Portugal, um 4 cilindros em linha com 1500 cc de capacidade desenvolvido pelos técnicos da empresa de Albergaria. Três exemplares foram produzidos, um dos quais continua activo e patente ao público no Museu do Caramulo.
A história dos Alba e dos seus sucessos desportivos (mais de quarenta corridas disputadas, com nada menos que dez vitórias) já é sobejamente conhecida dos entusiastas portugueses, porém só agora é possível divulgar alguns dos desenhos originais relativos aos projectos do chassis, carroçaria e motor, documentos do maior interesse técnico e histórico que com muita honra se revelam neste espaço. As imagens falam por si pelo que seria despropositado acrescentar quaisquer comentários. Direi apenas que o TN-10-82 apresentado ao fundo da página foi o segundo carro a ser produzido e viria a ter uma carroçaria algo diferente da original. Não há certezas sobre as razões da transformação.
Com agradecimentos a António Peixinho.







Vitória em Inglaterra

Não é fácil para uma equipa estrangeira vencer seja o que for em Inglaterra, seja pelo facto de os ingleses serem competentes em quase tudo o que fazem seja pela circunstância de os súbditos de Sua Majestade não apreciarem o facto de serem batidos no seu próprio terreno, nem que seja ao berlinde. Pois aconteceu agora uma equipa portuguesa sagrar-se vencedora do Concurso de Elegância incluído na edição 2015 do Royal Automobile Club 1000 Mile Trial, uma "clássica" do calendário mundial da especialidade que teve lugar no princípio de julho. O prodígio foi conseguido pelo 1932 Alvis Speed 20 SA de José e Manuel Romão de Sousa o qual bateu nesta difícil escolha um leque de quarenta outros automóveis pre-War onde se incluíam o 1928 Alfa Romeo 6C Mille Miglia Supercharged de Federico e Michael Bebert, o Triumph Dolomite 8C ex-Donald Healey tripulado por Jonathan Turner e Ben Cussons, o 1935 Mercedes 500K Cabriolet de Winfried Ritter e Gaby Weig, para não falar do Bugatti Type 37 A ex-Tazio Nuvolari da equipa Viola Procovio e Jessica Dickson. Concorrência de altíssima qualidade, já se vê, o que ainda mais enaltece o feito da equipa do Porto (where else?).
Uma palavra de apreço também para o bonito 1933 MG J2 da outra equipa portuense participante na prova  formada por Manuel Enes e Alexandra Pombo. A mecânica do MG não colaborou (too bad there ain´t no pre-war Porsche 356s...) mas apesar disso o país foi condignamente representado por mais esta dupla portuguesa.








Heróis em Duas Rodas

Também o motociclismo teve os seus Heróis, gente de coragem que arriscava tudo pela vã glória de chegar em primeiro lugar numa corrida frequentemente em condições de segurança mais que discutíveis. Tal como aconteceu a 13 de maio de 1933 no III Circuito do Campo Grande, grande evento motorizado que incluía várias provas de motos e automóveis. 
Para a principal corrida de motos alinharam cinco concorrentes: Alexandre Black, António Jorge Teixeira, Mário Teixeira, Jaime Campos e Ângelo Bastos. A prova compreendia 45 voltas ao Campo Grande e era transmitida em directo por um posto de rádio (CT1HX) alugado pelo jornal "A Bola". O vencedor seria António Jorge Teixeira (na foto) à média de 119 km/h, verdadeiramente notável para a época. Alexandre Black, figura maior do desporto motorizado de então, não foi feliz nesta prova: a sua moto não "pegou" no momento da partida e à 22ª volta  partiu a corrente, forçando a desistência.

Foto - DigitArq, Arquivo Digital da Torre do Tombo
Bibliografia - Diário de Lisboa, 13 de maio 1933


A Grande Maratona

Organizado pelo Automóvel Clube da Alemanha disputou-se em 1931 uma prova de resistência que consistia numa viagem de 10 mil quilómetros através da Europa e que, naturalmente, passou por Portugal. No dia 26 de Maio decorreu a ligação entre San Sebastian e Cacilhas, tendo o primeiro concorrente atravessado a fronteira do Caia às 11 e 25 e chegado a Cacilhas às 14 e 44. Tratava-se do Mercedes Benz com o número 74 dos senhores Wrud e Valentin, seguido do Minerva de Pisart e  Stressen. Dos 47 carros em prova 12 não partiram de San Sebastian, entre eles o do Príncipe Fernando de Liechtenstein. Após a chegada uma parte dos concorrentes atravessou o Tejo para visitar Lisboa mas a maioria optou por ficar em Cacilhas a tratar dos carros com vista à etapa seguinte que os levaria até Barcelona com partida às 04 e 01 do dia seguinte.
Fotos - DigitArq, Arquivo Digital da Torre do Tombo
Bibliografia - Diário de Lisboa de 27 de Maio de 1931




Mille Miglia 2015 - Anatomia do Carro nº 166

O Frazer Nash Fast Tourer com que José Manuel Albuquerque / José Costa Simões disputaram a edição 2015 das Mille Miglia não é um carro qualquer, muito pelo contrário. De facto trata-se do chassis 421/100/005 produzido em 1948 pela AFN em Inglaterra sob a responsabilidade de Fritz Fiedler, um conceituado técnico de origem alemã que trabalhou para a AFN a partir de 1947, o qual recorreu à tecnologia "Superleggera" da Touring para produzir a carroçaria  do Frazer Nash que seria então designado por  Fast Tourer, o único exemplar deste modelo a receber tal nome. Mais onze carros semelhantes seriam construídos mas viriam a ser designados como MM na sequência da participação de três Frazer Nash nas Mille Miglia de 1950.
O carro nº 166, o Frazer Nash Fast Tourer que a equipa portuguesa levou à mais recente edição das Mille Miglia, é o mesmo que conquistou uma Coupe des Alpes em 1953 pelas mãos do Barão Alex von Falkenhausen, um conhecido piloto e técnico alemão especializado em tecnologia BMW.



Em baixo, detalhe da estrutura Superleggera da carroçaria (esq) e Alex & Kitty von Falkenhausen (dir) a caminho de conquistarem a Coupe des Alpes no Alpine Rallye de 1953. A placa que regista esse mesmo resultado.







Mille Miglia 2015

 Exactamente às 7 horas e 22 minutos do dia 1 de Maio de 1955 o Mercedes Benz 300 SLR tripulado por Stirling Moss e Dennis Jenkinson partia da Viale Venezia em Brescia para cumprir as mil milhas da corrida em estrada aberta que o levaria até Roma e regresso, via Pescara e Florença. Pouco mais de dez horas depois (10hrs, 07 min e 48 seg) este mesmo carro cruzava a meta em Brescia como grande vencedor desta grande clássica do automobilismo mundial, tendo realizado a impressionante média de 157 km/h. Stirling Moss esteve sempre ao volante, cabendo a Dennis Jenkinson a responsabilidade de zelar pela navegação, tendo ambos dessa forma realizado uma das mais notáveis "performances" automobilísticas de que há memória.
14 de Maio de 2015. No ano em que se celebram 60 anos sobre a vitória de Moss / Jenkinson teve lugar em Brescia a partida para a edição 2015 desta grande maratona, agora com a presença de uma equipa portuguesa formada por José Manuel Albuquerque e José Costa Simões que tripulavam o Frazer Nash Fast Tourer com o número 166. Este carro foi produzido em 1948, tendo sido o primeiro deste tipo a sair da fábrica AFN Limited em Inglaterra. Está equipado com um motor Bristol de origem BMW com seis cilindros em linha e 2,000 cc de cilindrada capaz de produzir 120 bhp de potência.
As Mille Miglia originais, aquelas que foram disputadas em estrada aberta como se de uma simples corrida de automóveis se tratasse, tiveram lugar entre 1927 e 1957, tendo a prova sido retomada a partir de 1977 mas agora em versão "regularidade histórica". Em vez das 10 horas consecutivas de velocidade pura de outrora os concorrentes à edição de 2015 tiveram nada menos que dois dias e duas manhãs para percorrerem um percurso ligeiramente superior ao da versão original (1590 km em 1955, 1800 km em 2015), com partida e chegada em Brescia e pernoitas em Rimini, Roma e Parma .
Aqui fica a primeira parte da crónica desta grande aventura.